O interesse crescente no tratamento acústico é hoje uma realidade. Há cinco anos atrás, era raro ler um artigo em uma revista ou postar notícias sobre acústica, bass traps, difusores e assim por diante. Hoje essas discussões são comuns. E assim devem ser. A acústica de uma sala de gravação é, sem dúvida, o mais importante item que você deve levar em conta antes de iniciar qualquer projeto de gravação!
Nestes dias, os equipamentos são aceitavelmente flat nas mais importantes partes da faixa de áudio. A distorção, além de microfones e altofalantes, é baixa o suficiente sendo quase que inaudível. E o ruído - um grande problema com gravadores analógicos - é irrelevante na gravação digital. Na verdade, levando em conta a alta qualidade, mesmo dos equipamentos semi-profissionais, a verdadeira questão nestes dias é a sua habilidade como um engenheiro de gravação e a qualidade das salas nas quais você vai gravar e mixar.
Qual é a vantagem de se comprar um microfone que é super flat quando a acústica da sua sala de controle cria picos de até 20 dB ao longo do espectro das frequências graves? Será que são realmente importantes picos de 110 dB abaixo do nível da música quando ondas estacionárias em seu estúdio causam um enorme buraco em 80 Hz, exatamente onde você colocou um microfone para o baixo acústico? Claramente, erros de resposta de frequência desta magnitude são um enorme problema, porém, a maioria dos estúdios e salas controle sofrem desta deficiência. Pior, muitos proprietários de estúdio não têm nem idéia que suas salas tem esta resposta tão desequilibrada! Sem saber como soa realmente sua música, fica difícil produzir um produto de qualidade, e ainda mais difícil de criar mixagens que soem iguais fora da sua sala de mixagem.
Este artigo explica os princípios básicos do tratamento acústico. Meu objetivo é passar minhas experiências na área da acústica utilizando o senso comum, em vez de explicações e fórmulas matemáticas. Embora muitos livros sobre estúdios de gravação e salas de mixagem estejam disponíveis, a maior parte é demasiado técnica para a média dos entusiastas de áudio. E você vai precisar comprar e ler muitos livros para conseguir aprender alguns itens realmente relevantes de cada um.
Não sou engenheiro acústico ou engenheiro de som. No entanto, tenho muita experiência no tratamento acústico e, em especial, com bass traps. As recomendações aqui descritas são o resultado de minha própria experiência pessoal e não deve ser tomado como a palavra final. Embora este artigo se destine principalmente a engenheiros de áudio e donos de home studios, todas as informações se aplicam igualmente à pequenas igrejas e auditórios, salas de mixagem e outras áreas em que a alta qualidade da reprodução de áudio seja necessária.
Se você tiver perguntas ou comentários sobre qualquer coisa relacionada com a acústica, por favor não me mande email. Pelo contrário, eu prefiro que você poste aqui mesmo publicamente na minha seção de comentários do blog. Desta forma o esforço que coloco em responder pode ajudar os outros, e você pode se beneficiar com as respostas dos outros também.
PARTE 1: TRATAMENTO ACÚSTICO
Existem quatro objetivos principais no tratamento acústico:
1) Evitar ondas acústicas permanentes e interferências de frequências que afetam a resposta dos estúdios de gravação e salas me mixagens;
2) Reduzir a microfonia em pequenas salas e diminuir o tempo de reverberação em estúdios maiores, igrejas e auditórios;
3) Absorver ou difundir o som da sala para evitar microfonias e reverberações, e melhorar a imagem estéreo e,
4) Manter o vazamento de som para dentro ou para fora de uma sala. Ou seja, evitar que sua música perturbe os vizinhos, e para que o barulho de caminhões passando pela rua não entre em seu microfone.
O tratamento acústico, conforme descrito aqui é projetado para controlar a qualidade do som dentro de um quarto. Não se destina a impedir a propagação sonora entre salas. A transmissão do som e fugas são reduzidas através da construção - usando grossas paredes maciças, e isolando as estruturas do edifício - geralmente por paredes flutuantes e pavimentos, tetos flutuantes, etc. Questões sobre isolamento estão fora do âmbito deste artigo.
O tratamento acústico certo pode transformar uma sala com sonoridade opaca “dummy”, com pouca definição de médios e graves, em uma sala que soa clara e viva, ou seja, um ambiente perfeito para se trabalhar. Sem um tratamento acústico eficaz, é difícil ouvir o que você está fazendo, tornando o trabalho de mixagem muito mais difícil. Em um home theater, uma má acústica pode tornar o som menos claro, mais difícil de localizar, e com uma resposta irregular. Mesmo se você gastar milhares de dólares em altofalantes e outros equipamentos, a frequência de resposta em uma sala sem tratamento é capaz de variar até 30 dB.
Existem dois tipos básicos de tratamento acústico - absorvedores e difusores. Há também dois tipos de absorvedores. Um tipo para o controle de reflexões de midrange e alta freqüências; e outro, um bass trap, para baixas frequências. Todos os três tipos de tratamento são geralmente exigidos antes de se ter a sala própria para mixagens e para ouvintes realmente exigentes.
Muitos proprietários de estúdio instalam espuma acústica em toda a extensão da sala achando que isso é suficiente. Afinal, se você bater palmas em uma sala tratada com espuma (ou fiberglass, cobertores, ou caixa de ovos), você não vai ouvir qualquer reverber ou eco. Mas este tratamento não vai fazer nada para controlar o reverber da baixa freqüência e suas reflexões, e a batida de mão não vai revelar isso. Estúdios de porão e salas com paredes feitas de tijolos são particularmente propensas a este problema - quanto mais rígidas as paredes, mais reflexivas elas são nas baixa freqüências. Você pode se perguntar por que você precisa de tratamento acústico, uma vez que poucas pessoas a ouvir a sua música estarão em uma sala tratada acusticamente. A razão é simples: Todos os quartos soam diferente, tanto no seu valor de liveness “som ao vivo” e sua resposta de frequência. Se você criar uma mix que soa bem em sua sala, é provável que soe muito diferente em outras salas. Por exemplo, se o seu quarto tem uma grave falta de profundidade “bass”, a sua mixagem provavelmente irá conter demasiado “bass” pois você irá incorretamente compensar com base naquilo que você está ouvindo. E se alguém toca sua música em uma sala que tem muito baixo profundo, o erro será exagerado, e eles vão ouvir o baixo de uma forma muito mais profunda. Portanto, a única solução viável é fazer a sua sala tão precisa quanto possível.
No próximo post vamos falar sobre Difusores e Absorvedores, até lá!